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Aaron Swartz, o visionário que sonhou com uma internet livre

Atualizado: 2 de mar. de 2023



Aaron Swartz foi um programador norte-americano que também era empresário, escritor, organizador político e hacktivista da Internet. Ele era reconhecido no meio da tecnologia por ser muito inteligente e quando era jovem fez parte da equipe que construiu o formato RSS, que hoje é utilizado por usuários para se inscrever em newsletters — aqueles informativos das páginas de internet que te atualizam com as últimas informações dos sites que você mais segue.


Aaron também trabalhou na criação das Leis do Creative Commons, as quais são responsáveis por “proteger” a propriedade intelectual, sobretudo aquelas relacionadas ao software livre e de código aberto. Colaborou também com a Reddit, na área de notícias sociais.


Desde pequenino seus pais e irmãos já sabiam de suas habilidades e inteligência. Ele sempre demostrou interesse por ativismo e queria melhorar o acesso aos dados e informações, pois acreditava que deveriam ser gratuitas para todas as pessoas. Ao final deste artigo, será compartilhado um manifesto chamado “manifesto da guerrilha do livre acesso”, no qual serão apresentados mais detalhes sobre os ideais e as ideias de Aaron Swartz em relação à internet.


Por que Swartz é famoso?


Em 2008, Swartz baixou quase 2,7 milhões de documentos da Corte Federal dos Estados Unidos. Esses documentos eram considerados públicos, mas os usuários precisavam pagar certa de oito centavos por página. O Governo dos Estados Unidos dizia que o dinheiro era para a atualização e administração dos sistemas de informática dos serviços da justiça federal, mas há relatos públicos que confirmam um grande superávit.


Depois que Swartz baixou os documentos, ele compartilhou os mesmos com a organização chamada Public Resource ORG para que ficassem em domínio público. Dessa forma, as pessoas já não precisariam mais ter que pagar para acessá-los.


Esse foi somente o início, pois Aaron Swartz começou a participar de atividades no Massachussets Institute of Technology - MIT, tendo contato com artigos da base de dados JSTOR. O JSTOR é um repositório via web, onde as universidades públicas americanas colocam suas publicações e pesquisas. No entanto, é necessário ter que pagar para ter a acesso a esse repositório.


Nesse sentido, Aaron achou que ter que pagar para ter acesso às pesquisas que algumas universidades públicas faziam, era muito caro. Para ele, essas pesquisas teriam que ser de aceso público e grátis, inclusive até as universidades que entregam pesquisas para o JSTOR pagam para ter acesso a elas nessa base de dados. Vale lembrar que as universidades dos Estados Unidos fazem muitas pesquisas com dinheiro dos contribuintes e essas pesquisas não podem ser acessadas sem uma licença paga do JSTOR. Esse fator representa um problema de equidade, porque somente as pessoas com muito dinheiro ou que fazem parte de comunidades com dinheiro conseguem pagar por essas licenças.


Neste ponto não fica claro se o Aaron queria entregar os artigos que ele baixou para o público, uma vez que ele foi acusado pelas autoridades e logo foi encontrado morto no seu apartamento no Brooklyn, em New York, no que aparentemente foi um suicídio. O documentário “O Menino da Internet” (2014) relata, de maneira excelente, a vida, morte e o legado de Aaron Swartz.


Aaron Swartz, um dos principais responsáveis pelo despertar de consciências em favor de uma internet aberta e a serviço do bem comum - Actantes
Aaron Swartz, um dos principais responsáveis pelo despertar de consciências em favor de uma internet aberta e a serviço do bem comum - Actantes

Particularmente, acho que Aaron quis utilizar seu conhecimento para fazer um mundo melhor. Seu legado pode ser encontrado nas organizações e pessoas que lutam para que a internet seja mais democrática e se torne uma ferramenta de fácil acesso para todos. A internet, como todas as ferramentas e progressos significantes para o ser humano, está em um campo de batalha, no qual poderosos tentam utilizá-la para o seu benefício. Sempre haverá pessoas como Aaron, que estão dispostas a arriscar tudo por seus ideais e para tentar fazer com que este mundo seja mais justo e igualitário.


A história de Aaron Swartz, assim como a de Julian Assange, Chelsea Manning, Edward Snowden e de todas as pessoas e organizações que lutaram contra a censura de informações, representa uma luta contra o poder para que nós, os cidadãos comuns, tenhamos uma internet melhor. O que Swartz queria, era um mundo melhor, onde todas as pessoas teriam acesso à informação. Pode-se dizer que devido ao trabalho de pessoas como ele que hoje a internet é o principal meio de transmissão de ideias, de comércio e de participação dos cidadãos.

Onde assistir o documentário: https://libreflix.org/i/the-internets-own-boy ou na Netflix.

Manifesto da Guerrilha do Livre Acesso


“Informação é poder." Mas, como todo o poder, há aqueles que querem mantê-lo para si mesmos. A herança inteira do mundo científico e cultural, publicada ao longo dos séculos em livros e revistas, é cada vez mais digitalizada e trancada por um punhado de corporações privadas. Quer ler os jornais apresentando os resultados mais famosos das ciências? Você vai precisar enviar enormes quantias para editoras como a Reed Elsevier.

Há aqueles que lutam para mudar esta situação. O Movimento Open Access tem lutado bravamente para garantir que os cientistas não assinem seus direitos autorais por aí, mas, em vez disso, assegura que o seu trabalho é publicado na internet, sob termos que permitem o acesso a qualquer um. Mas mesmo nos melhores cenários, o trabalho deles só será aplicado a coisas publicadas no futuro. Tudo até agora terá sido perdido.

Esse é um preço muito alto a pagar. Obrigar pesquisadores a pagar para ler o trabalho dos seus colegas? Digitalizar bibliotecas inteiras mas apenas permitindo que o pessoal da Google possa lê-las? Fornecer artigos científicos para aqueles em universidades de elite do Primeiro Mundo, mas não para as crianças no Sul Global? Isso é escandaloso e inaceitável.
“Eu concordo”, muitos dizem, “mas o que podemos fazer? As empresas que detêm direitos autorais fazem uma enorme quantidade de dinheiro com a cobrança pelo acesso, e é perfeitamente legal – não há nada que possamos fazer para detê-los. Mas há algo que podemos, algo que já está sendo feito: podemos contra-atacar.

Aqueles com acesso a esses recursos – estudantes, bibliotecários, cientistas – a vocês foi dado um privilégio. Vocês começam a se alimentar nesse banquete de conhecimento, enquanto o resto do mundo está bloqueado. Mas vocês não precisam – na verdade, moralmente, não podem – manter este privilégio para vocês mesmos. Vocês têm um dever de compartilhar isso com o mundo. E vocês têm que negociar senhas com colegas, preencher pedidos de download para amigos.

Enquanto isso, aqueles que foram bloqueados não estão em pé de braços cruzados. Vocês vêm se esgueirando através de buracos e escalado cercas, libertando as informações trancadas pelos editores e as compartilhando com seus amigos.

Mas toda essa ação se passa no escuro, num escondido subsolo. É chamada de roubo ou pirataria, como se compartilhar uma riqueza de conhecimentos fosse o equivalente moral a saquear um navio e assassinar sua tripulação. Mas compartilhar não é imoral – é um imperativo moral. Apenas aqueles cegos pela ganância iriam negar a deixar um amigo fazer uma cópia.
Grandes corporações, é claro, estão cegas pela ganância. As leis sob as quais elas operam exigem isso – seus acionistas iriam se revoltar por qualquer coisinha. E os políticos que eles têm comprado por trás aprovam leis dando-lhes o poder exclusivo de decidir quem pode fazer cópias.
Não há justiça em seguir leis injustas. É hora de vir para a luz e, na grande tradição da desobediência civil, declarar nossa oposição a este roubo privado da cultura pública.

Precisamos levar informação, onde quer que ela esteja armazenada, fazer nossas cópias e compartilhá-la com o mundo. Precisamos levar material que está protegido por direitos autorais e adicioná-lo ao arquivo. Precisamos comprar bancos de dados secretos e colocá-los na Web. Precisamos baixar revistas científicas e subi-las para redes de compartilhamento de arquivos. Precisamos lutar pela Guerilla Open Access.

Se somarmos muitos de nós, não vamos apenas enviar uma forte mensagem de oposição à privatização do conhecimento – vamos transformar essa privatização em algo do passado. Você vai se juntar a nós?

Aaron Swartz Julho de 2008, Eremo, Itália.

Texto escrito por Johao Larios Fidalgo

Desenvolvedor de software que gosta de pesquisar sobre o impacto da informática no mundo real, diretamente de San José, Costa Rica.

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