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Mulheres, tecnologia e empoderamento

No auge da corrida espacial travada entre Estados Unidos e Rússia durante a Guerra Fria, uma equipe de cientistas da NASA, formada exclusivamente por mulheres afro-americanas, provou ser essencial para a vitória dos Estados Unidos, liderando uma das maiores operações tecnológicas registradas na história americana e se tornando verdadeiras heroínas da nação.

Cartaz do filme "Estrelas além do Tempo", mostrando as três personagens principais e o título ao lado.

Este é o enredo do filme Estrelas Além do Tempo (Hidden Figures em inglês, ou Elementos Secretos em português de Portugal), lançado em 2016, estrelado por Taraji P. Henson como Katherine G. Johnson, Octavia Spencer como Dorothy Vaughan e Janelle Monáe como Mary Jackson, além das participações de Kevin Costner e Kirsten Dunst, sob a direção de Theodore Melfi.

Observando a produção com um olhar crítico e superando alguns exageros de Hollywood, nota-se algumas bandeiras muito importantes para nossa sociedade atual: empoderamento feminino de mulheres negras num ambiente social efervescente de luta pelos direitos civis nos Estados Unidos da década de 60. Válido ressaltar que estas mulheres estiveram envolvidas com a finesse da ciência e tecnologia, englobando matemática, física e engenharia espacial dentro do programa da corrida espacial do Estados Unidos.

A grandiosa história das senhoras Johnson, Vaughan e Jackson inspiraram movimentos pós filme para a discussão/fomento do STEM (sigla em inglês para Science, Technology, Engineering, e Mathematics). Algumas instituições de caridade, institutos e empresas independentes consideram o filme relevante para a causa da conscientização dos jovens na educação e nas carreiras nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática.


Sendo assim, foram organizadas exibições gratuitas do filme para divulgar a mensagem do assunto do filme. Um esforço colaborativo entre o Western New York STEM Hub, a AT&T e as Girl Scouts dos Estados Unidos (movimento de escotismo) permitiu que mais de 200 alunos da Buffalo Public School, escoteiras e professores vissem o filme. Entre os objetivos do evento, destaca-se o incentivo de uma nova geração de mulheres a considerar as carreiras STEM.


Pesquisas indicam que existem mais de 2,4 milhões de empregos STEM não preenchidos. Ainda nesta esteira, as principais atrizes do filme (Henson, Spencer, Monáe e Parsons), diretor (Melfi), produtor/criador musical (Williams) e outros grupos externos sem fins lucrativos ofereceram exibições gratuitas em vários locais de cinema ao redor do mundo. Algumas das exibições foram abertas a todos os participantes, enquanto outras foram organizadas para beneficiar meninas, mulheres e pessoas desfavorecidas. A campanha começou como ativismo individual de Spencer e disponibilizou um total de mais de 1.500 lugares, gratuitamente, para indivíduos e famílias pobres. O resultado foram mais 7 exibições em várias cidades dos Estados Unidos, visando oferecer a oportunidade para pessoas que de outra forma não teriam condições de ver o filme da 20th Century Fox.

Em 2019, a Walt Disney Company fez parceria com o Departamento de Estado dos EUA no terceiro programa anual de intercâmbio "Hidden No More", que foi inspirado no filme e traz para os Estados Unidos cinquenta mulheres de todo o mundo que se destacaram em carreiras STEM como engenharia de espaçonaves, soluções de dados, privacidade de dados e educação relacionada a STEM. O programa de intercâmbio começou em 2017, depois que as embaixadas locais dos EUA exibiram o filme para suas comunidades locais. O retorno das exibições foi tão positivo que 48 países decidiram nomear uma mulher com destaque nas áreas de STEM para representar seu país em um programa de intercâmbio de três semanas nos Estados Unidos.

Reforçando o conceito, STEM refere-se habitualmente à políticas educacionais e escolhas curriculares para melhorar a competitividade no desenvolvimento da criatividade e da crítica através da ciência e tecnologia. Este acrônimo possui variações tanto nas letras que o compõem quanto na forma de aplicação ao redor do globo, entretanto, compartilham de um conceito comum de uso de tecnologia e ciências num formato mais moderno e orientado a projetos (ou desafios) e modelos de negócio de mercado, a fim de proporcionar aos estudantes uma visão mais holística e prática dos ensinamentos acadêmicos.

O STEM education tem como bandeira levar para a sala de aula temas contemporâneos da ciência e tecnologia, buscando incorporar algo que até poucos anos atrás não fazia parte do vocabulário do professorado: computação, robótica, programação, engenharia, tecnologia, design, ambientes virtuais, aplicativos, smartphones, games e assim por diante. Tal incorporação tem gerado efeitos positivos no ensino de ciências: há um esforço, muitas vezes bem-sucedido, do ensino de ciências estar constantemente atualizado e ligado na inovação, mas sem perder de vista alguns de seus conceitos bases. O outro efeito, e que extrapola a dimensão curricular, é o de promover iniciativas de aperfeiçoamento profissional e formação de professores.

Válido ressaltar que o modelo também tem suas falhas e uma das críticas remete a uma possível visão simplista ou limitada do que compõe um currículo integrado, porque tratam sobre temas das quatro áreas, mas não estabelecem relações entre ou além deles e ignoram a história das propostas de integração curricular. Além disso, algumas dessas iniciativas colocam para escanteio as artes e ciências humanas, e mesmo aquelas que se propõem a integrar as artes e advogam pelo uso do termo STEAM (Science, Technology, Engineering, Arts, and Mathematics) são criticadas por fazerem das Artes uma ferramenta de suporte e não verdadeiramente um campo do conhecimento integrado.

Outro ponto de crítica é que as propostas STEM são fundamentadas no otimismo tecnológico, uma visão positivista, determinista e neutralista da ciência. Há a crença de que a ciência é ideologicamente neutra e livre de interesses, e ignora-se a sua natureza controversa e social, bem como aspectos da natureza e filosofia da ciência.

Geralmente as propostas STEM education procuram relacionar as atividades escolares com as práticas profissionais. Em outras palavras, o movimento sendo ligado a uma demanda do mercado de trabalho traz como principal consequência a concepção da escola como sendo um processo de preparação para a vida profissional e para atender as necessidades da economia, ou seja, um modelo tecnicista de escola.

Em resumo, é preciso pensar no STEM education como fruto de uma tendência do nosso tempo, trazendo consigo as marcas positivas e negativas vivenciadas pela educação atualmente. De qualquer maneira, o filme Estrelas Além do Tempo trouxe luz à esta discussão, incentivando a reflexão e fomentando um conceito educacional e de empoderamento importante para nossa sociedade.

Detalhes do filme:

Filme: Estrelas Além do Tempo (Hidden Figures/Elementos Secretos)

Elenco: Taraji P. Henson (Katherine G. Johnson), Octavia Spencer (Dorothy Vaughan), Janelle Monáe (Mary Jackson), Kevin Costner (Al Harrison), Kirsten Dunst (Vivian Mitchell), Mahershala Ali (coronel Jim Johnson)

Diretor: Theodore Melfi


Texto escrito por Gustavo Longo

Atuante na área da tecnologia há vinte anos, conciliador, curioso, disposto e apaixonado em sempre ajudar as pessoas, além de crente no poder transformador da Educação. Nas horas vagas, busca aprender sobre mercado de ações e em descobrir curiosidades do mundo do cinema através do canal Youtube Faro Frame. Acaba de iniciar um projeto pessoal com sua esposa para viajar e "viver" como um cidadão local em cada capital brasileira por 30 dias nos próximos anos.

 

Referências:




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