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O mesmo fato: Duas formas de comunicá-lo


No artigo anterior,Migrações: A mídia e a formação da opinião pública”, foi apresentado o quão importante é o estudo do enquadramento (framings) das notícias, tendo em vista de que há influência nas atitudes e nos comportamentos das audiências. Mas será que sempre é assim?


Meu leitor/minha leitora, eu quero fazer um convite para você: vamos usar a imaginação e supor uma situação.

Jornalista entrevistando
Jornalista entrevistando

Você está na sua sala assistindo a televisão e o programa apresenta uma notícia sobre um evento que aconteceu recentemente titulado: muçulmano ataca brasileiro no meio da rua”.


Logo sua cabeça começa a refletir, imaginando o que aconteceu e estabelecendo uma opinião a respeito do assunto.


O tempo transcorre, você continua fazendo suas coisas na casa e antes de dormir decide ligar a televisão cinco minutos. Nesse momento, você assiste outro jornal e eles falam sobre uma notícia, em que diz: “uma pessoa estava a caminho de uma reunião na mesquita e teve uma tentativa de assalto. Como resultado, ele se defendeu e atacou ao ladrão”.


O que você pensaria? Continuaria com o mesmo pensamento que teve algumas horas antes?

O que você do seu ponto de vista?
O que você do seu ponto de vista?

Dois lados da mesma informação


No primeiro exemplo, o framing tem a característica de ser episódico, pois ele não transmite nenhuma informação sobre o contexto. No entanto, faz com que a compreensão seja limitada e que a responsabilidade esteja focada em indivíduos específicos. Dessa forma, o problema se resolveria em relação ao “criminoso”.


De maneira oposta, no segundo exemplo, o framing temático leva em consideração o contexto, de modo que a informação é mais completa e isso faz com que as pessoas compreendam o que aconteceu para além dos indivíduos que participaram. Interessando-se, portanto, pelas diferentes circunstâncias que envolvem a situação.


Além da influência dos framings, é importante destacar o papel das emoções na compreensão dos efeitos das notícias. Tanto as atitudes quanto os comportamentos são construções sociais e estão sujeitas a mudanças, nas quais são produzidas pelo contexto e apresentam influências externas.


Nesse sentido, acontece que, levando em conta os exemplos de framings, cada um/a dos/as leitores/as vão ter uma opinião diferente, simplesmente porque cada um/a ao ler ou ouvir uma notícia faz um recorte particular da realidade e esse recorte está composto por experiências, vivências, costumes, sentimentos e tudo o que compõe essa pessoa.


A notícia e seus efeitos


Por último, é relevante mencionar que com o passar dos anos, o conceito de framing está tendo dificuldades em relação à identificação dos seus efeitos, porque é utilizado de múltiplas formas, de modo que fica difícil a diferenciação com outros efeitos da mídia. Mesmo assim, as evidências empíricas indicam que os julgamentos preconceituosos de determinados grupos sociais são uma consequência das notícias.


Pensando nisso e na importância das migrações internacionais no século XXI, no próximo artigo, vamos refletir sobre as atitudes em relação aos imigrantes.



Texto escrito por Soledad Bravo

Escritora, editora e coordenadora da equipe "La Nación" no Observatório de Política Exterior Argentina (OPEA) e membro da Rede de Cientistas Políticas. Além disso, tem uma extensa carreira na área acadêmica; tem Licenciatura em Ciência Política, Doutoranda em Ciência Política (UFPE), Magister Internacional em Gestão de ONGs, Gestão de Voluntariado e Cooperação Internacional (Centro UNESCO) e é Bolsista da Organização dos Estados Americanos (OEA). Ama o Twitter e para encontrá-la pela rede procure por: @sooledadbravo


Revisão por Mateus Santana

Mestre em Linguística e graduado em Letras com habilitação em português/francês pela UNESP. Especialista em Grafologia e Neuroescrita pela Faculdade Unyleya. Amante das Artes, da Linguagem e do Discurso.


Edição por Felipe Bonsanto

Formado em Administração de empresas, pós graduação em marketing e apaixonado por Los Hermanos. É militante pelos direitos LGBTQIAP+, trabalha com educação há oito anos, atua como co-host no podcast O Historiante e é colunista do Zero Águia.

 

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