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Os 'nem-nem': geração perdida?

Atualizado: 23 de abr. de 2023



“O Brasil não tem sido justo com seus jovens”, quando disse essa frase um bate-papo informal com amigos falava sobre os desdobramentos de um cenário entre e pós-pandemia no Brasil, e de repente, me vi externalizando uma realidade triste; a de um país que não apresenta expectativas para sua população, sobretudo a mais jovem.


Pensando repetidamente neste assunto, decidi destrinchar todo esse cenário sobre a população jovem brasileira e intensificar minhas buscas para que possamos pensar sobre os não tão distantes anos oitenta, a triste “década perdida” e o quanto estamos próximos

de estar vivendo uma realidade bem semelhante, ou quem sabe pior.



A juventude brasileira: quem são?


Para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é considerado jovem a população dos 15 aos 24 anos. Mas usarei como referência o Estatuto da Juventude (Lei n. 12.852, de 05.08.2013) que entende como jovem pessoas dos 15 aos 29 anos de idade.

De acordo com o relatório "Direitos da População Jovem - Um marco para o desenvolvimento", o conceito de jovem:

(...) "refere-se à fase de vida situada entre a infância e a idade adulta. Trata-se, portanto, de uma etapa de aquisição das habilidades sociais, atribuições de deveres e responsabilidades e afirmação da identidade. As escolhas realizadas nessa fase de vida têm forte influência no futuro, como fator de ampliação ou limitação da vida adulta. Apesar de ter por base marcos etários e biológicos, a definição da população jovem é indissociável do contexto sociocultural, político e econômico."

Segundo o IBGE, no censo de 2015, a população jovem no Brasil correspondia a 23,6% da população, o que representa 47,3 milhões de brasileiros.


É também nessa fase da vida que o jovem inicia suas primeiras experiências no mercado de trabalho, onde muitas vezes ainda está cursando os últimos anos do ensino médio, quando não os últimos anos do ensino fundamental. Deste modo, um assunto pouco explorado no início dos anos 2000, mas que vem ganhando notoriedade; os “nem-nem”, quem são e por que eles podem ser um grande indicativo do cenário na pandemia no Brasil.


Mas afinal, quem são os "nem-nem"?

São considerados "nem-nem", jovens que não trabalham nem estudam. E, somados, representam 23% da população jovem brasileira. No último censo, os nem-nem ganharam uma análise mais detalhada por significar um importante indicador de problemáticas como desemprego, evasão escolar precoce e o desencorajamento com o mercado de trabalho nesta população.


A Organização Internacional do Trabalho (OIT), recomenda dividi-los por meio de duas questões; se este jovem procura (ou não) ingressar no mercado de trabalho e se ele está (ou não) matriculado na escola.


Tendo isso em vista, os dados do Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) realizada em 2015, mostrou que entre os "nem-nem", temos os:

  • Inativos economicamente - (não estuda, não trabalha e nem procura): homens: 7,5% / mulheres: 21,1%

  • Ativos economicamente - (não estuda, não trabalha, mas procura): homens 7,6% / mulheres: 8,7%

  • Total: homens: 15,1% / mulheres: 29,8%

Somados, os "nem-nem" representavam cerca de 11 milhões de jovens. Há um perfil majoritário mostrado na pesquisa: mulheres pretas ou pardas com idade entre 18 e 29 anos.


Além da evasão escolar, há também um indicador muito importante; o desencorajamento do jovem no mercado de trabalho, que acreditam ser exigente demais quanto a qualificação. E o que já era preocupante, em um cenário de pandemia pode ser ainda mais.


Um cenário de incertezas na educação e no mercado de trabalho



As escolas públicas enfrentaram diversos obstáculos para manter o acompanhamento do alunos em meio a pandemia do covid-19. Além da desmotivação dos estudantes, o ensino público (estadual e municipal) esbarra em uma série de percalços pois muitos destes jovens não têm acesso a itens básicos, tampouco acesso à internet, que em muitos casos se mostra o principal motivo de desencorajamento da continuidade do ano letivo.


O adiamento do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) no ano de 2020, foi um movimento que ganhou as redes sociais de todo país com um pedido para postergar o calendário do exame. O ranking das hashtags mais utilizadas nas redes sociais liderou por dias o #AdiaEnem, que movimentou o debate acerca do acesso ao ensino superior das camadas mais pobres da sociedade em um cenário de pandemia e improvável continuidade da preparação dos jovens a rotina de estudo de modo que se tornem minimamente competitivos.


Além de trabalhadores na área da Educação, houve também a presença de figuras públicas se manifestando a favor do adiamento do exame. Vale reforçar que, o ENEM é a principal oportunidade para muitos desses jovens da rede pública de ingressar no ensino superior, seja pelo Sistema de Seleção Unificada (SISU) ao até mesmo o Programa Universidade para Todos (ProUni).


O Ministério da Educação (MEC), tem enfrentado muitas críticas da sociedade civil e de diversos movimentos sociais ligados à Educação. Além das inúmeras trocas de ministros em um curto espaço de tempo, o órgão tem usado um tom meritocrático e punitivo sobre o que tange a Educação, o que não traz nenhuma expectativa de formas inclusivas e flexíveis de seleção no ENEM 2020.


Se o acesso as universidades encontra-se pouco amistoso, na mesma linha se desdobra as possibilidades de ingresso no mercado de trabalho formal para os jovens. O Brasil tem enfrentado um dos piores índices de desemprego dos últimos anos (fato que se agravou ainda mais com a pandemia). No mês de junho de 202o, somavam-se mais de 12,9 milhões de brasileiros desempregados, segundo o IBGE.


Cenários apocalípticos de lado, mas com desdobramentos notórios, talvez a solução e apoio que esses jovens tanto precisam possa partir de iniciativas da própria sociedade civil e de movimentos sociais, pois da esfera pública nenhuma ação nesse sentido tem sido apresentada, e mostra-se distante de que siga-se neste caminho. Uma das soluções talvez seja uma ação mais empática, inclusiva e coletiva destes movimentos de modo que possamos, juntos, possibilitar uma esperança em meio a tanta nebulosidade a estes jovens que não têm sido acolhidos pela nossa pátria-mãe, nos último anos não muito gentil.


Texto por: Katiane Bispo

Formada em Relações Internacionais e especialista em Políticas Públicas e Projetos Sociais. É podcaster do “O Historiante” e escreve mensalmente para “Zero Águia”. Site: @uma_internacionalista

 

Fontes:


Jovem no Brasil - http://www.unfpa.org.br/Arquivos/direitos_pop_jovem.pdf - acessado em 16.07.2020


Dados da jovens brasileiros - https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv98965.pdf - acessado em 15.07.2020 - Páginas: 42,43,49



Desemprego segundo trimestre 2020: https://www.ibge.gov.br/explica/desemprego.php - acessado em 16.07.2020

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