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Os Pilares da Aprendizagem

Há alguns meses atrás me deparei com um Ted Talk que tinha o título “Pare de estudar. Comece a aprender”, apresentado pelo Dr. Justin Sung, no qual ele conta rapidamente sobre a sua história e explica como ela o levou a estudar sobre um assunto em específico: Como aprender.



Dentro dos 15 minutos de palestra, Sung compartilha seu conhecimento a partir de uma lógica que me fez repensar em tudo o que eu acreditava saber a respeito dos estudos e aprendizagem. Junto dele, o neurobiólogo e oftalmologista, Andrew Huberman, me forneceu conhecimentos que me deram a ideia e a motivação de produzir um compilado lógico indo da parte teórica à prática sobre a pergunta postulada no título deste artigo. Comecemos então pela teoria.

Os 3 pilares da aprendizagem

Durante o TedTalk, o Dr. Justin Sung apresenta uma analogia que ilustra bem o problema que a maioria dos alunos universitários que eu conheço sofrem. Imagine que você está dirigindo um carro e ele começa a pifar, logo você para no acostamento, abre o capô e percebe que não sabe nada sobre mecânica. Agora pense que o carro é o seu cérebro, ou melhor, o seu sistema nervoso e que o caminho que você estava traçando era o seu sistema de estudo em busca do seu destino: o aprendizado.


A partir dessa analogia, podemos fazer inúmeras perguntas, tais como: Você estava realmente buscando o aprendizado? O caminho que você estava fazendo era o mais eficiente? Você estava cuidando do seu carro para que ele não quebrasse no caminho? Você sabe como o seu carro funciona para que possa cuidar dele? Todas essas perguntas ilustram o ponto geral que o Dr. Justin Sung queria passar. Você precisa entender como o seu cérebro funciona para que você possa operá-lo de forma otimizada.


E quando o assunto é cérebro, ou melhor, sistema nervoso, o Dr. Andrew Huberman é autoridade no assunto. A partir dos conhecimentos que ele apresenta, eu fui capaz de selecionar 3 pilares que se alinham perfeitamente com algumas das técnicas de estudo que o Dr. Justin Sung propõe.


Pilar 1 – Neuroplasticidade


Quando falamos de aprender, estamos falando de um processo e do ponto de vista biológico e neuronal, o termo que descreve tal fenômeno é chamado de Neuroplasticidade.

Neuroplasticidade nada mais é que a capacidade do sistema nervoso central de mudar e de se adaptar conforme o nervo é exposto a experiências, sejam elas voluntárias e positivas ou involuntárias e traumáticas. Visto que o tópico do artigo é estudo, comentarei apenas sobre os mecanismos que afetam e atuam durante a Neuroplasticidade voluntária e positiva, já que a Neuroplasticidade como um todo é um assunto extremamente profundo e abrangente.


A capacidade da Neuroplasticidade em indivíduos mais jovens (como, por exemplo, crianças, adolescentes e jovens adultos até os 25 anos de idade) é mais passiva, sendo facilmente acessada e intensa durante o desenvolvimento cognitivo ainda em progresso. No entanto, isso não impede que pessoas adultas e até mesmo as idosas não possam desencadear, manter e consolidar a Neuroplasticidade em seus cérebros. Tudo o que elas precisam é fazer uso do próximo pilar.

Pilar 2 – Foco


Quando falamos de foco, gosto de pensar na seguinte analogia: seu foco nada mais é que um holofote de percepção, jogado sobre um palco de sensação. Em outras palavras, quero dizer que a posição da sua língua ou a sensação entre os dedos de seus pés sempre esteve lá, apenas o seu holofote que não foi direcionado.


Em relação à Neuroplasticidade, o Foco é como se fosse uma chave ou o gatilho que a desencadeia e isso se mostra mais lógico ao entender um pouco dos mecanismos hormonais por trás de ambos os fenômenos.


Existem apenas dois hormônios que precisamos ter em mente, literalmente, para entender como a Neuroplasticidade e o Foco se relacionam, a saber: a adrenalina e a acetilcolina. A adrenalina causa uma sensação de alerta, possibilitando maiores níveis de foco. Já a acetilcolina demarca os neurônios mais ativos durante esses maiores níveis de foco para que em um momento posterior eles sejam consolidados no terceiro pilar da aprendizagem, o do sono.


De forma análoga, a adrenalina aumenta o brilho e, por vezes, o foco de nosso holofote e a acetilcolina anota quais partes do palco, de sensações, o holofote iluminou para mais tarde torná-lo fixo.


Pilar 3 – Sono


Quando falamos do sono e como ele se relaciona com a aprendizagem, é importante deixar algo claro: a aprendizagem não ocorre durante os estados de Neuroplasticidade, mas sim em períodos de sono ou descanso profundo.


Os motivos pelos quais a aprendizagem ocorre durante o período do sono são vários e fascinantes. Entre eles, podemos dizer, de forma simplificada, que durante o seu sono ou períodos de descanso, a adrenalina, hormônio relacionado ao foco, diminui e isso causa um estado mental de maior aleatoriedade e “liberdade”. Tal estado é necessário para o fortalecimento das conexões que foram demarcadas durante o estado de Neuroplasticidade.


Ademais, é importante saber que as memórias são feitas durante o sono e também o esquecimento delas, pois os neurônios marcados pela acetilcolina durante a sessão de estudo e durante funcionamento de nosso cérebro no sono são reativados em velocidades maiores e em sentido oposto, fortalecendo tais conexões e tornando o conhecimento mais acessível para nós.

As 3 melhores técnicas de estudos derivadas dos pilares

Pomodoro

A técnica do Pomodoro é provavelmente uma das técnicas de manejo de tempo mais difundidas e utilizadas no mundo, porém ela é vendida como uma técnica de manejo de tempo apenas. Seu apelo e sua eficiência se baseiam na verdade, em sua capacidade de desencadear estados de foco profundo por períodos de tempo prolongados.


A técnica em si ocorre pela separação do tempo em blocos com a forma padrão, sendo um bloco de 25 minutos de estudo ou trabalho seguido por um de 5 minutos de descanso, em que após um blocos de 60 minutos realizados o indivíduo completa um ciclo que o recompensa com 15 minutos de descanso. Apesar da forma padrão ser bem eficiente, por si só ela pode não ser a ideal para você. Após alguns estudos, diferentes valores foram estipulados para a maior produtividade, como, por exemplo, os blocos de foco de 52 e os blocos de descanso de 17.


Entretanto, considerando a razão real que se utiliza o Pomodoro (atingir foco profundo), uma boa forma de descobrir qual a melhor configuração para si é através da autoexperimentação e da cronometragem da sua performance. Ou seja, teste diferentes combinações de tempo e descanso ou simplesmente coloque um cronômetro e estude.


Os primeiros 10 ou 15 minutos serão desconfortáveis e realmente difíceis de se focar, porém considerando que você eliminou o máximo de distrações possíveis (celulares e fontes de barulho) e se comprometeu com o conteúdo, você acessará um estado de profundo foco, desencadeado à Neuroplasticidade. Após um tempo, sua atenção voltará a sair de seu controle e é aí que você deve olhar o cronômetro para descobrir qual a duração de seus ciclos de atenção. Tire um descanso de 5 a 10 minutos e volte aos estudos renovado e cronometre novamente sua performance.


Mapas mentais

Agora que acessamos à Neuroplasticidade é interessante utilizá-la da forma mais eficiente possível e, para isso, precisamos de uma técnica que nos garante o que o Dr. Justin Sung ensina, que é chamado de Pensamento de Alta Ordem, para termos um Aprendizado de Alta Ordem.


Basicamente ele explica algo talvez tão óbvio que a maioria de nós, em especial estudantes, esquece: “o aprendizado ocorre dentro de nosso cérebro e o papel é apenas uma reflexão disso”. Ou seja, os mapas mentais são apenas uma técnica que nos induz a pensar sobre o conteúdo que estamos estudando e eles permitem utilizar uma forma de anotação não linear e permitem o uso da linguagem não verbal. Assim, a nossa capacidade de organizar o conhecimento que nós estamos lidando cresce exponencialmente.


É importante notar que, de forma semelhante ao Pomodoro, existem diferentes formas de se utilizar esta técnica. Algumas pessoas utilizam um modelo com um tema central que se expande em “braços” ou “galhos” de conhecimento ao seu redor, de modo que se fragmenta, ainda mais relacionando uma gama de informações periféricas com uma ideia unificada. Outras são mais livres e utilizam a criatividade e o entendimento do leitor como guia para relacionar os tópicos, temas e ideias que o conteúdo aborda.


Ademais, outros detalhes são recomendados como o realce de certas ligações e o colorimento de diferentes braços de conhecimento é um meio de caracterizar e aprofundar ainda mais a forma como sua mente enxerga tais informações tornando, assim, o processo de aprendizagem ainda mais rico. Com isso, recomendo experimentação e pesquisa de metodologias que interessem e funcionem melhor para o leitor.


Recall Ativo (ou cartões de estudo)

Recall Ativo nada mais é que o exercício da memória. Tudo o que um indivíduo precisa é de uma folha de papel, uma caneta ou lápis e um cérebro. Para executar tal técnica, o leitor deve, após uma sessão de estudo, tomar algo por volta de 10 minutos de descanso. Com as ferramentas necessárias comentadas e sem o auxílio do livro ou material utilizado para estudo, é importante escrever tudo o que se lembrar de sua sessão. Feito isso, descanse por mais 1 ou até 2 horas e refaça o exercício.


Gramática, organização e capricho podem ser deixados de lado, bem como a folha após o término do exercício. De forma semelhante ao mapa mental, o processo é mais importante que o resultado. Caso o leitor queira repetir o exercício após um intervalo maior que o anterior, ele pode. A explicação do porquê tal método se efetiva é bem clara: você está ativamente relembrando informações consumidas a pouco.


Outra forma talvez menos poderosa deste método, são os famosos cartões de estudo. As diferenças que podem torná-los problemáticos são as seguintes:

  1. Ilhas de informação: casos utilizados sozinhos compartimentalizam o conhecimento e depravam o estudante de conexões significativas e profundas que facilitam o entendimento e a fixação do conhecimento;

  2. Memória viciada: diferentemente do exercício comentado, cartões de estudos fazem perguntas e dão informações incompletas específicas que induzem o estudante à resposta. Isso em geral torna a prática inferior, pois causa uma memória dependente de dicas e pistas que levam a informação desejada ao invés da capacidade de buscar o conhecimento alvo através de múltiplas relações;

  3. Espelho maligno: considerando que o leitor faça uso de aplicativos para praticar seus cartões de estudo, é digno de se dizer que os algoritmos por trás dessas plataformas podem ser bem desmoralizantes ao tentarem ser eficientes. Veja bem, o algoritmo do anki, por exemplo, é configurado para que o estudante revise mais vezes aqueles cartões, de modo que o mesmo sente mais dificuldade para justamente fortalecer tal memória. O problema disso ocorre quando são feitos baralhos extensos onde uma quantidade cada vez maior de cartões difíceis, chatos, monótonos e sem relação ou significado real se tornam o grosso daquilo que o estudante deve revisar no dia. Dessa forma, causa uma sensação de frustração e não de progresso.


Conclusão

A aprendizagem é um fenômeno complexo, discutido, debatido, teorizado e pesquisado por décadas. Visto sua íntima relação com o sistema nervoso, o cérebro, é claro que ainda existem inúmeros mistérios a serem resolvidos e descobertas a serem feitas referentes ao tal processo inerente à vida e à existência humana. Desse modo, eu espero que o leitor possa ter cruzado com algum conhecimento novo nas linhas passadas e até mais, mudando sua forma de pensar em relação ao modo de como estudar.


Tais conhecimentos, apesar de não serem obrigatórios ao cidadão comum, poderiam, e eu argumentaria que deveriam, ser passados para estudantes em todas as fases do sistema de educação.


Pense comigo caro leitor, muitos entram no mecanismo educacional antes mesmo de saber ler ou escrever e matéria após matéria, professor após professor, ano após ano, nunca nos é apresentado os fundamentos como a ciência e as práticas que sustentam e orientam o caminho para o aprendizado. Por isso, muitos vivem as primeiras décadas de suas vidas estudando e aprendendo pouco.

Texto escrito por Heictor Bellato

Graduando em Zootecnia, apaixonado por Ciência e Filosofia. Também acredita que são as pessoas que podem trazer as soluções para os problemas do mundo.

Revisão por Mateus Santana

Edição por Eliézer Fernandes



 
Fontes









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