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Rishi Sunak e os desafios de governo no Reino Unido

Atualizado: 22 de nov. de 2022



Nos últimos meses o Reino Unido teve três ocupantes diferentes do cargo de Primeiro Ministro. O que esteve a frente por mais tempo, comandando inclusive o processo do “Brexit”, foi Boris Johnson. Envolto em diversas polêmicas, entre elas a presença em festas e eventos com aglomeração de pessoas durante a pandemia, acabou renunciando depois que diversos de seus secretários pediram para deixarem seus postos, o que fez com que até mesmo membros do parlamento mudassem de lado, passando à oposição. Para sucedê-lo, houve uma disputa dentro do partido Conservador e duas figuras ganharam destaque, Liz Truss e Rishi Sunak. A primeira conseguiu maior apoio e tornou-se Primeira-Ministra - a última no reinado de Elizabeth II - entretanto não conseguiu contornar a crise econômica e rapidamente perdeu apoio para continuar no cargo. O partido rapidamente se mobilizou para escolher uma nova liderança e evitar a possibilidade de novas eleições legislativas, pois, segundos pesquisas, perderia presença e poder frente aos Trabalhistas. Desta vez o escolhido foi aquele que havia perdido para Truss, Rishi Sunak.


Sunak estabeleceu-se como o mais novo a ocupar o cargo na era moderna. Filho de pais com ascendência indiana, que nasceram no Quênia e na Tanzânia. Entretanto, cabe ressaltar que essa não é uma história de ascensão de uma família de imigrantes com poucos recursos já que o agora primeiro-ministro teve acesso à educação superior nas mais prestigiosas universidades. Ele apresenta um perfil capaz de cativar novos eleitores e reforçar a posição dos Conservadores. Ele também é o ocupante a chegar mais rápido ao cargo, tendo sido eleito como parlamentar pela primeira vez há apenas 7 anos.


Sua formação academia prestigiosa e carreira no setor financeiro resultaram em uma fortuna estimada em US$ 840 milhões. Além de ter sido eleito parlamentar, também ocupou os cargos de Secretário-chefe do Tesouro e posteriormente de Chanceler do Exchequer, uma espécie de ministro das finanças/economia no Reino Unido.


As crises do Reino Unido



O país vem passando por crises em diferentes áreas e que servem de catalizadores entre si no durante o processo. São elas: Crise econômica, que vem se desenvolvendo desde as negociações e a formalização do Brexit, seguido pelo impacto da pandemia de Covid-19 e mais recentemente a invasão da Ucrânia pela Rússia.


O processo longo de execução do Brexit trouxe muitas incertezas sobre as relações com o resto do continente europeu. Medidas corriqueiras como a entrada e saída de caminhões fazendo o transporte de cargas passaram a enfrentar filas longas para o devido processamento fronteiriço, causando inclusive a perspectiva de desabastecimento de itens em determinadas épocas.


Pandemia, Mini Budget e a Monarquia


Um acontecimento que teve impacto significativo na economia britânica foi a pandemia. As incertezas e a diminuição do ritmo da economia trouxeram novas dificuldades para todos os países. As incertezas e retomada de ritmo anterior trouxeram processos inflacionários importantes no continente europeu e o Reino Unido também foi afetado, registrando os maiores índices de inflação em décadas.


Nesse contexto de inflação recorde, o gabinete de Liz Truss propôs uma isenção fiscal como forma de estimular a economia. Porém tal iniciativa não teve boa aceitação já que privilegiava apenas camadas mais altas da sociedade e de forma bastante específica. O resultado foi uma queda ainda mais acentuada da popularidade do partido perante a opinião pública. Truss rapidamente renunciou ao posto, estabelecendo o recorde de menor tempo a frente do gabinete. O partido, preocupado com esse descontentamento, agilizou para que o sucessor fosse escolhido antes que houvesse movimentação para novas eleições parlamentares. O escolhido foi aquele que havia ficado em segundo lugar anteriormente, Rishi Sunak.


Com a morte da longeva Rainha Mãe, o governo britânico também terá que encarar os desafios dessa transição. Temas como a independência da Escócia e a saída de alguns países da Commonwealth voltaram a ganhar força, impulsionado pela menor popularidade do novo rei Charles III.


No Canadá, a discussão sobre essa possível separação entre o país e a Coroa foi abordada rapidamente e rejeitada. Uma das interpretações para a decisão foi que o governo canadense enxergava essa separação como um sinal preocupante e poderia servir de estímulo para o movimento separatista do Quebec.


Partido Conservador: baixa popularidade


Partido Conservador britânico realizando votação de liderança | Foto: Stefan Rousseau/AFP
Partido Conservador britânico realizando votação de liderança | Foto: Stefan Rousseau/AFP

No plano partidário, os Conservadores perderam popularidade nos últimos anos, sobretudo em 2022. Com Boris Johnson, enfrentaram um arrastado Brexit, uma condução por vezes inadequada da pandemia com a participação em festas e reuniões enquanto estas estavam proibidas/desencorajadas e por fim a indicação de Chris Pincher para o cargo de “Government Chief Whip” (algo como líder da bancada) mesmo após este ter sido acusado de abusos sexuais.


Após a renúncia de Johnson, o processo eleitoral para a escolha da nova liderança do partido Conservador (e consequentemente o novo Primeiro-Ministro) apresentou figuras que haviam ocupado diversas secretarias do governo, os que se destacaram mais foram: Liz Truss, antes Secretaria de Estado para Relações Exteriores e que lidava entre outros temas com a invasão da Ucrânia e Rishi Sunak.


Futuro do governo


O desafio de Sunak será readequar a economia britânica diante dessa tormenta, tentando ao mesmo tempo restaurar a confiança em seu partido. Diferentemente de Truss, com um neoliberalismo centrado na isenção fiscal, o plano de Sunak deve ser mais no modelo de Margareth Tacher, de quem ele é admirador. Ou seja, poderá ter um controle maior sobre o regime fiscal, reduzindo despesas e investimentos estatais. Tal prática já ocorreu quando ele era secretário. Em resposta a pandemia ele propôs a expansão do crédito, mas tão logo houve a desaceleração da pandemia o benefício foi cortado. Agora resta ver se o novo primeiro-ministro será capaz de lidar com estes desafios e estabilizar a política e a economia do Reino Unido.



Texto escrito por João Guilherme Grecco

Formado em Relações Internacionais e grande entusiasta da carreira diplomática. Estudou para o Concurso de Admissão a Carreira Diplomática (CACD) e atualmente é colunista do Jornal Zero Águia.

 

Fontes




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