top of page

Sindicalização das Big Techs: Insatisfação e desejo de mudança

Atualizado: 1 de set. de 2022

A indústria em geral sempre foi hostil à sindicalização, beneficiando muitas vezes o patrão e não o funcionário. Um novo grupo de líderes mais jovens está tentando mudar isso.

No início de 2021, alguns funcionários do Google disseram que estavam formando um sindicato. Muitas pessoas ficaram intrigadas com a notícia, por que os trabalhadores de uma empresa conhecida por altos salários e almoços grátis deveriam se sindicalizar? Mas a medida é apenas a mais recente de uma batalha crescente por justiça, ética e direitos trabalhistas em grandes empresas de tecnologia que vão muito além de salários e benefícios.


Google, Amazon, Apple e Facebook estão entre as maiores e mais poderosas empresas da história, com centenas de milhares de funcionários, muitos terceirizados. Porém um dos problemas nesse modelo de trabalho é a falta de direitos trabalhistas. Os faxineiros que fazem a limpeza dos escritórios usados pelos funcionários do Google não recebem os mesmos benefícios e proteções que o restante dos colaboradores. Muitos trabalhos de colarinho branco, como escrever código, vender software e revisar conteúdo, também são feitos por terceiros. A luta sindical nos armazéns da Amazon no início deste ano se tornou uma das lutas trabalhistas de maior destaque nos últimos anos.


A necessidade de políticas mais fortes contra o assédio sexual e mais apoio a mulheres e outras minorias levou a mudanças nas gigantes da tecnologia. A decisão do Google em dezembro de demitir sua pesquisadora-chefe de inteligência artificial – uma das mulheres negras mais proeminentes no campo – provocou protestos generalizados contra a censura de pesquisas críticas ao Google, exigindo uma investigação sobre demissões de funcionários que não tem medo de falar sobre seus empregadores.


Há outro elemento-chave em jogo, no entanto. Alguns trabalhadores não gostam do papel que suas empresas têm na sociedade e funcionários do Twitter, Facebook e YouTube do Google tem tentado pressionar seus chefes para reprimir conteúdo abusivo, racista e sexista em suas plataformas.


Um bom exemplo aconteceu em janeiro do ano passado, quando o Twitter baniu o presidente Donald Trump de seu site depois que 350 funcionários escreveram uma carta exigindo uma investigação sobre as decisões da empresa de manter Trump em sua plataforma. No final das contas, a crescente tensão entre trabalhadores e gerentes representa uma luta pelo poder à medida que gigantes da tecnologia, alguns dos quais começaram com visões idealistas, emergiram como gigantes corporativos que pouco assumem suas responsabilidades com os funcionários e com a sociedade.


O Caso Amazon


O líder sindical da Amazon, Christian Smalls, comemora uma vitória histórica a favor dos trabalhadores.

Em abril deste ano uma equipe de trabalhadores da Amazon forçou a gigante da tecnologia a reconhecer um sindicato pela primeira vez na história. Os trabalhadores de um armazém de Nova York votaram 55% a favor de ingressar no Sindicato dos Trabalhadores da Amazon.


O grupo é liderado pelo ex-funcionário da Amazon Chris Smalls, que fez seu nome protestando contra as condições de segurança da gigante do varejo durante a pandemia. A vitória de Smalls marca uma grande derrota para a Amazon, que lutou ferozmente contra a sindicalização.


No entanto, no Alabama, onde a Amazon enfrentava uma campanha sindical separada, a empresa parecia ter repelido ativistas em uma disputa acirrada na qual as cédulas contestadas ainda poderiam anular esse resultado.


Juntas, as duas eleições marcam um marco para os ativistas, que há muito criticam as práticas trabalhistas na Amazon, a segunda maior empregadora do país.


Smalls emergiu da contagem de votos parecendo cansado, mas exultante, e abriu uma garrafa de champanhe que foi entregue por apoiadores.

"Fizemos o que foi preciso para nos conectar com esses trabalhadores", disse ele à multidão, relatando uma campanha contra as probabilidades que começou com "duas mesas, duas cadeiras e uma barraca" e contou com uma campanha de arrecadação de fundos online. "Espero que todos estejam prestando atenção agora, porque muitas pessoas duvidaram de nós."

Em comunicado, a Amazon disse estar decepcionada com a perda em Nova York e que está avaliando como proceder. Também acusou os organizadores de influenciar indevidamente a votação.


"Acreditamos que ter um relacionamento direto com a empresa é o melhor para nossos funcionários", disse a empresa.


Por que as Big Techs temem a sindicalização?


Nos últimos 40 anos, à medida que o número de trabalhadores sindicalizados vem caindo, o Vale do Silício há muito retrata os sindicatos como uma ameaça à sua reputação de inovação e flexibilidade.


"As empresas de tecnologia recrutaram pessoas prometendo-lhes que trabalhariam em um tipo diferente de empresa – uma que seja, acima de tudo, transparente e com a missão de tornar o mundo um lugar melhor”, explica Margaret O'Mara , professora de história da Universidade de Washington. "Esses funcionários estão agora exigindo que seus empregadores cumpram as promessas que fizeram”, diz O'Mara.


Quando essas demandas por padrões mais altos não foram atendidas, os trabalhadores de tecnologia começaram a se reunir como um coletivo para se manifestar contra práticas antiéticas ou imorais e responsabilizar as empresas por suas ações


Sempre vendendo seus ambientes de trabalho como "legais e descolados", as grandes empresas de tecnologia há muito abusam de jornadas de trabalho extenuantes, numa cultura que normaliza sugar o máximo que podem dos funcionários com uma remuneração muitas vezes inadequada.


Somando-se à isso, as crescentes denúncias de assédio moral e outros problemas como a falta de benefícios para terceiros tem feito as gigantes da tecnologia temerem a criação de sindicatos, que trariam uma nova força para dentro de seu meio, capaz de investigar e efetivamente trazer para a grande mídia a desigualdade e as injustiças praticadas num ambiente de trabalho cada vez mais tóxico e estressante.



Texto escrito por Eliézer Fernandes

Fundador do Zero Águia, é desenvolvedor de software, formado em Segurança da Informação pela FATEC e fascinado por história e relações internacionais.

 

Fontes:


Matéria sobre a sindicalização das big techs do Washington Post: https://www.washingtonpost.com/technology/2021/01/26/tech-unions-explainer/


Reportagem da BBC sobre o primeiro sindicato norte-americano da Amazon: https://www.bbc.com/news/business-60944677


Artigo da Union Track sobre sindicatos e a indústria de tecnologia: https://uniontrack.com/blog/big-tech-unions








bottom of page